03/01/2012 - 07h00
KATIA DEUTNER
Colaboração para o UOL
Conviver com um companheiro esbanjador quando se tem um perfil mais contido financeiramente (ou vice-versa) gera brigas constantes. Afinal, um sempre acha que o outro é que está errado. Como resolver esse tipo de divergência sem que o relacionamento termine? "Muitas vezes, o gastador e o poupador se digladiam por uma questão de poder. Participam de um jogo e nem se dão conta disso. É mais inconsciente do que consciente", diz a psicóloga Marisa Gabbardo, que afirma que terapia para o casal é saudável nesses casos.
O educador financeiro Álvaro Modernell, sócio-fundador da empresa Mais Ativos, diz que o comportamento em relação ao dinheiro é reflexo do jeito de ser de cada um, manifestado tanto nas finanças quanto em outras áreas da vida --e, como em outros temas em que casais discordam, traz problemas. Para evitar atritos, Reinaldo Domingos, tambném educador financeiro e fundador do Instituto DISOP de Educação Financeira, afirma: "A conversa franca é o caminho."
Dicas para uma convivência saudável
Para lidar com esbanjadores
É perda de tempo falar em corte de despesas, logo de cara, com uma pessoa esbanjadora. "Recomendo o estímulo à identificação de sonhos –individuais e coletivos– e um plano financeiro conjunto para realizá-los", diz o educador financeiro Reinaldo Domingos. Quando o parceiro entende que para realizar os sonhos de vocês precisará readequar o orçamento, equilibrando ganhos e gastos e reservando uma parte, encontra um motivo para evitar compras desnecessárias.
Controlar a conta do companheiro esbanjador é um erro que pode trazer mais problemas do que soluções. “Talvez, uma saída seja o casal controlar junto as entradas e saídas de dinheiro, de ambos, para, com muito diálogo, estabelecer um ponto de equilíbrio. A comunicação é uma chave importante que auxilia no desenvolvimento psíquico e no amadurecimento", explica a psicóloga Marisa Gabbardo.
Conversar sobre a maneira como o orçamento (conjunto e individual) será administrado é o segredo do sucesso. "A confiança entre o casal vai sendo construída com o tempo e, embora seja recomendado que o dinheiro de cada um seja controlado individualmente, nada impede que um mostre ao outro o extrato bancário ou comprovante de rendimentos. Até porque, para administrar e planejar as despesas conjuntas do casal, é preciso saber exatamente quanto entra e quanto sai, para definir a divisão das contas", diz Reinaldo Domingos.
Depois de combinar como enfrentarão as contas do dia a dia e os investimentos para o futuro, ambos podem deixar uma parte da renda de cada um reservada para uso pessoal com mais liberdade. “Assim, se um quiser poupar mais da sua parte ou se o outro prefere gastar tudo, está liberado para isso. O limite? O valor que foi combinado com o parceiro e, de preferência, evitando excessos, principalmente, com gastos relacionados a coisas que desagradem o companheiro ou companheira", diz Álvaro Modernell, educador financeiro.
Um caderno ou uma agenda para colocar as despesas diárias no papel, desde as contas com cafezinho ao plano de saúde, é uma forma de auxiliar no controle financeiro. “Com esse diagnóstico, é possível identificar gastos e quais supérfluos podem ser cortados”, explica Reinaldo Domingos.
Para lidar com pães-duros
Nem sempre ser extremamente poupador garante saúde financeira. “Isso, muitas vezes, leva a pessoa e a família ao estresse. Quando apenas guardamos dinheiro e ficamos escravos dele, não é certeza de ser feliz. Acumular sem objetivo não leva a nada. Mesmo quem poupa ou investe sem ter um ideal acaba gastando, sem perceber, e sem ter realizado algo significativo", diz Reinaldo Domingos, educador financeiro.
Mais uma vez, o diálogo deve entrar em ação. Reconheça que é importante economizar, mas que para isso não é preciso abrir mão de sonhos e diga isso a quem convive com você (se a pessoa for sovina demais). "Guardar dinheiro é um meio de realizar nossos desejos. Tudo em excesso prejudica a saúde física, mental, espiritual e também financeira”, afirma Reinaldo.
O educador financeiro Álvaro Modernell recomenda ao casal ter uma conta bancária individual para cada um e outra conjunta. "A segunda deve ser a principal da família. Será alimentada por ambos, nas proporções de suas rendas. Dela sairá o dinheiro para as despesas comuns e para os investimentos sonhados. As individuais são para contas particulares, relacionadas a cuidados pessoais, hobbies, presentes e previdência complementar. Isso é bom para que ambos sintam-se menos dependentes um do outro no futuro."
Para que a conta conjunta dê certo, estabeleçam regras. “Imagine: você, ao emitir um cheque ou passar o cartão de débito, descobre que já não tem mais saldo em conta corrente, pois a outra pessoa gastou em outras necessidades", exemplifica Reinaldo.
Tome cuidado se estiverem brigando constantemente por causa de dinheiro e da avareza do outro, chegando ao ponto de afetar as necessidades básicas da família e as de sobrevivência. "É importante investigar o que está por trás desta economia exagerada, que pode ocultar alguma patologia mais séria, até mesmo uma depressão ou transtorno obsessivo compulsivo (TOC). Pessoas avarentas sofrem, pois não sentem prazer em ser assim e precisam de ajuda para usufruir melhor a vida”, diz a psicóloga Marisa Gabbardo. "Dinheiro deve ser respeitado, mas nunca adorado", afirma Reinaldo Domingos.
Aprenda com equilibrados
Sem sombra de dúvida, ser equilibrado é o melhor perfil financeiro –mas pode se tornar um problema quando o companheiro for gastador ou poupador em demasia. Se você tem um desses outros dois perfis, aproveite o equilíbrio do seu par para aprender.
"A pessoa mais equilibrada psiquicamente consegue usar uma parte do dinheiro e guardar a outra para o futuro, para usar quando a capacidade produtiva decresce", diz a psicóloga Marisa Gabbardo.
O ideal é alinhar os pensamentos e atitudes para que tudo possa convergir a favor dos desejos e sonhos do casal. "A solução para os problemas quase sempre está dentro de casa. Por isso, ouça a pessoa com quem você vive. Às vezes, ela não mudará, mas você entenderá melhor que é possível respeitar as diferenças e aprender uma forma nova de viver em conjunto", diz o educador financeiro Reinaldo Domingos.
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